Existe igualdade de gênero no mercado de tecnologia e marketing digital?

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Artigo publicado em 27/07/2020

O questionamento que dá nome a esse artigo pode parecer retórico diante de todo o debate que já existe sobre a desigualdade no mercado de tecnologia e marketing digital. Mas essa foi a pergunta que moveu o Techwomen 2020, projeto desenvolvido pelo Scup para entender o cenário profissional de mulheres que atuam nessas áreas. 

Apesar de trazer resultados inéditos, os números do monitoramento feito pela Scup não são novidade quando falamos em mercado de trabalho: 82,9% das profissionais não acreditam que exista igualdade de gênero nas áreas de tecnologia.

Para entender melhor as raízes que antecedem esse cenário e trazer a perspectiva dessas mulheres, a Scup fez um levantamento  nas redes sociais entre os dias 9 de fevereiro e 10 de março, junto a um questionário online que recebeu mais de 800 respostas.

 

O que aprendemos com o TECHWOMEN 2020

Gráfico sobre diversidade e inclusão e igualdade de gênero

Ao isolar gênero, o cenário ainda é homogêneo sem diversidade racial.

Quem são as mulheres que trabalham com tecnologia e marketing digital? São mães ou pretendem ser? Qual é o maior obstáculo no caminho para a igualdade entre homens e mulheres? Já falamos o suficiente sobre igualdade salarial? Já foram assediadas sexualmente ou moralmente no ambiente de trabalho? Se sim, denunciaram o ocorrido?

Nem todas essas perguntas têm respostas exatas, isso é inegável. Mas o Techwomen 2020 buscou aprofundar esses assuntos para levantar questões que, infelizmente, ainda não são debatidas no mundo corporativo da tecnologia e do marketing com a riqueza que deveriam.

Esse mercado tem gênero e cor, e não é preciso se apoiar em estatísticas para que você saiba do que estamos falando. Quando isolamos os homens e olhamos apenas para as mulheres na área, o panorama ainda é bastante homogêneo: 68,2% das mulheres nessa área são brancas. Apenas 16,9% são negras, e a representatividade de recortes sociais interseccionais é menor ainda.

 
 

Grande parte das mulheres que atuam em tecnologia é cis-gênero, isto é, se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento (feminino ou masculino, de acordo com o órgão reprodutor). Sendo assim, onde estão as mulheres trans?

Esses números têm um significado e passam uma imagem não muito amigável para quem olha de fora. Afinal, que clima e cultura organizacional está sendo construído nesses ambientes de trabalho? 

Quem vê de dentro, entretanto, pode ter uma visão ainda mais dura. De acordo com o Techwomen 2020, 60% das mulheres da área já sofreram assédio moral – sendo um comportamento muito frequente (16,7%) e causado por homens (80,6%).

O assédio sexual também faz parte da vivência de muitas profissionais das áreas de tecnologia e marketing. Por inúmeras razões, a dificuldade em denunciar é ainda maior nesses casos. Com a ferramenta de classificação automática do Scup, identificamos que a palavra "contar" foi usada negativamente em 25% das vezes, indicando que o movimento de relatar problemas como esse é difícil.

Telefone verde com balões de fala, igualdade de gênero

74% das mulheres que sofreram assédio moral contaram para alguém, mas 67,4% não levaram o assunto para o RH.

E então?

A partir dos relatórios de monitoramento do Scup, ficou claro que é difícil para as mulheres contar sobre as situações de assédio que viveram no trabalho. Embora essa constatação possa parecer óbvia para algumas pessoas que lêem, abordar o tema no ambiente corporativo ainda é um tabu muito grande - e que precisa ser desconstruído.

Descobrimos que a maior dificuldade é envolver a empresa nessa conversa: 74% das mulheres que sofreram assédio moral contaram para alguém, mas 67,4% não levaram o assunto para o RH. Em outras palavras, o desvio de conduta não foi endereçado dentro da organização. 

A situação fica ainda pior quando levamos em conta que poucas empresas têm um canal de denúncia estruturado, seja interno ou externo. Por mais que existam ferramentas para receber esse tipo de relato, é muito comum que o clima e cultura organizacionais não transmitam segurança para que as equipes enviem denúncias.

No caso de assédio sexual, apenas 16,3% formalizaram a denúncia para a empresa – mas, delas, 87% não recebeu qualquer tipo de orientação. Mesmo quando denunciam, as mulheres não têm o devido acompanhamento, e isso desestimula ainda mais as vítimas. 

Assim como o monitoramento de redes sociais revoluciona a estratégia digital das marcas, a tecnologia pode ser uma forte aliada das empresas para viabilizar uma estrutura de denúncias confiável e segura para as envolvidas. E envolvidos - afinal, o assédio e outras questões de abuso de poder não estão presas a gênero.

Além do estudo completo, o Techwomen 2020 também contou com a participação de quatro profissionais incríveis, que dividiram um pouco de suas trajetórias profissionais, além de embarcarem em temas como machismo, racismo, síndrome da impostora e insegurança no começo da carreira.

Veja as entrevistas de Danielle Monteiro, consultora de dados e MVP da Microsoft; Ana Talavera, gerente de inteligência e pesquisa; Cinara Moura, gerente de planejamento e estratégia digital; e Amanda Abreu, gerente de planejamento e fundadora da Indique uma Preta no nosso IGTV.

Você também pode conferir o estudo completo clicando aqui.


* Giovanna Lukesic trabalha no Scup, plataforma de monitoramento e gerenciamento de redes sociais, e participou da produção e desenvolvimento do Techwomen 2020.


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