Connect empodera pessoas a se manifestarem e ajuda empresas a identificar questões recorrentes antes que escalem

Se você já passou por uma situação de má conduta no trabalho, seja de assédio ou de discriminação, vai entender rapidinho o conceito por trás da nova funcionalidade da SafeSpace. E se já testemunhou um caso de fraude ou bullying por exemplo, a mesma coisa.

Apesar de sabermos que é muito difícil ter dados gerais de uma base única sobre isso, já foram publicados diversos estudos que mostram que casos de má conduta acontecem com frequência no ambiente de trabalho:

  • De acordo com uma pesquisa da Kantar, 80% das pessoas já testemunharam discriminação no trabalho mas apenas 1 a cada 3 relatou para a empresa. 

  • Uma outra pesquisa realizada pelo LinkedIn em parceria com a consultoria Think Eva em 2020, revela que 47% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho.  Uma em cada 6 mulheres vítimas de assédio acabam pedindo demissão. 

  • Uma terceira pesquisa realizada pela SafeSpace em parceria com a Mindminers revelou que 55% das pessoas LGBTQIA+ já viveram alguma situação de discriminação no trabalho e 64% já testemunharam o mesmo com alguém da equipe. Entre essas pessoas, 13% já pediu demissão ou perdeu o emprego por conta disso.

E o que as organizações estão fazendo para combater esse problema? Bom, de acordo com a consultoria Gartner, 60% de todos os casos de má conduta que acontecem no ambiente de trabalho nunca são reportados para o RH ou Compliance. Ou seja, um dos principais motivos pelo qual as empresas não conseguem combater o problema é porque elas não têm visibilidade nenhuma dele.

Por que as pessoas não relatam problemas de comportamento?

Há uma série de razões pelas quais as pessoas não relatam má conduta e intimidação no local de trabalho, a principal delas sendo o medo de sofrer retaliação. Muitas têm vergonha de se manifestar e receio de não serem levadas a sério.

Quando eu e minhas sócias decidimos empreender e começar a construir a SafeSpace, a nossa principal hipótese era que as pessoas precisavam de (muito) mais segurança psicológica e mecanismos de proteção para conseguir falar internamente sobre casos de má conduta no trabalho. Se as pessoas não têm uma alternativa segura para relatar um caso internamente, a outra opção (que é mais prejudicial para todas as partes envolvidas) é se manifestar publicamente e buscar ajuda externa. Este enfoque é, até certo ponto, uma reação a um sistema que foi projetado para ignorar o problema. 

Sempre que falávamos sobre a nossa ideia de negócio para as pessoas e, consequentemente, contávamos experiências próprias de assédio e discriminação,  ouvíamos pelo menos um relato parecido de quem estava nos ouvindo. Quando tinha mais de uma pessoa na roda então, o relato de uma puxava o da outra e a conversa virava infinita. Começamos a perceber que esse efeito coletivo ajudava as pessoas a sentirem confiança e combaterem o estigma relacionado ao problema. 

O mesmo efeito impulsionou o movimento #metoo, que teve um papel muito importante na esfera global de expor a dimensão de um problema que, até então, estava encoberto. Algo muito parecido também aconteceu no Brasil com a planilha das agências, que levantou milhares de relatos anônimos sobre o ambiente de trabalho no mercado publicitário. Isso mostra que as pessoas se sentem menos vulneráveis quando sabem que são parte de um padrão, mas em termos práticos, pouco adianta fazer isso depois que problema já escalou e a empresa não tem a chance de arrumar e nem as ferramentas certas para tal, correto?

Bom, então como podemos ir além de apontar o dedo e revelar publicamente as pessoas agressoras? Será que existe uma forma de alavancar esse efeito de rede para ajudar empresas a identificarem e resolverem esses problemas internamente antes que se tornem tão graves?



Como funciona o 'Connect' na plataforma da SafeSpace

A nova funcionalidade da SafeSpace permite o envio de um relato sob a condição de que este faça parte de um padrão de comportamento. A hipótese base da funcionalidade é que a força de uma ação coletiva ajuda a gerar confiança para as pessoas e dá uma chance maior para a empresa identificar questões recorrentes antes que elas escalem. Especialmente se pensarmos que a maioria dos casos envolvem pessoas que têm uma diferença de poder grande na organização e/ou na sociedade. 

Nós acreditamos que o Connect vai ajudar as empresas clientes da SafeSpace a identificarem problemas de comportamento recorrentes ainda mais rápido. Enviar um relato sob a condição de fazer parte de um padrão é uma forma alternativa de proteger as pessoas envolvidas. Além de ajudar a empresa a detectar riscos de forma mais ágil, o envio com Connect também ajuda a contornar o anonimato, o que torna o processo de mediação e/ou investigação mais fácil. Com um 1 ano de operação, empresas clientes da SafeSpace recebem 10x mais relatos e resolvem casos 3x mais rápido do que as que usam canais de denúncia analógicos*. Com essa nova funcionalidade, queremos aumentar ainda mais a visibilidade e eficiência do processo.

 Vou ilustrar um caso de uso com um exemplo. Em 2015, a Volkswagen se descobriu envolvida em um escândalo de falsificação de resultados de emissões de poluentes em motores a diesel. O caso trouxe um prejuízo bilionário para a empresa, além de danos à reputação. Em uma situação de fraude complexa como essa, necessariamente várias pessoas da empresa sabiam o que estava acontecendo. Será que todas elas eram 100% coniventes com a má conduta ou será que algumas não eram, mas tinham medo de denunciar o ocorrido porque isso envolvia acusar pessoas executivas do alto escalão? 

Seja em um caso de fraude como esse ou em casos de assédio sexual, como os que envolveram o produtor de cinema Harvey Weinstein ou o ator da Globo Marcius Melhem, situações de má conduta no trabalho são abusos de poder e geralmente acontecem de forma recorrente envolvendo mais de uma pessoa na organização. Em todos esses casos, a primeira pessoa que se manifestou tomou um grande risco. Por conta dessa desvantagem em ser a primeira a levantar a mão, fator especialmente relevante em casos que envolvem pessoas famosas e/ou muito poderosas, os casos demoraram muito mais para vir à tona. É aí que entra o "Connect". Imagine como a descoberta e investigação desses casos seria diferente se as pessoas pudessem fazer um relato condicional, com a garantia de que o caso só ia adiante se outras pessoas estivessem passando pela mesma situação? Se coloque na posição de uma testemunha, será que ela não teria coragem de relatar o caso mais cedo se tivesse a certeza de que a empresa só daria continuidade caso as pessoas envolvidas se manifestassem também? E para o Compliance e o RH dessas organizações, não seria muito mais fácil identificar a raiz do problema e juntar evidências se mais de uma pessoa relatasse de uma vez? A SafeSpace acredita que sim.

Além de ajudar empresas a identificarem riscos iminentes, o Connect pode ajudar com a prevenção de problemas de má conduta no longo prazo. A funcionalidade foi projetada para endereçar o problema de uma perspectiva estrutural. Nós sabemos que a maioria das pessoas não são corruptas ou assediadoras, mas que por conta da estrutura desigual da nossa sociedade pode acabar cometendo ofensas e agressões. Nós criamos essa funcionalidade com o objetivo de ajudar empresas a ligarem os pontos e mostrarem para sua equipe que às vezes um comentário ofensivo (mesmo que intencionado como brincadeira) pode acabar validando e impulsionando outro comportamento mais prejudicial. Assim damos uma chance para as pessoas aprenderem e mudarem, o que é muito mais produtivo do que entrar com medidas punitivistas depois que o problema já escalou.



O futuro do trabalho é seguro e inclusivo

Não é nenhum segredo que as empresas no mundo todo estão sendo pressionadas a se tornarem mais éticas, diversas e inclusivas. E esse é mais um passo da SafeSpace para ajudar organizações a chegarem lá. Estamos ansiosas para ver cada vez mais organizações embarcando nessa jornada conosco, assumindo uma postura proativa em relação a problemas de comportamento para construir ambientes de trabalho mais seguros e inclusivos. Estamos só começando e não vamos parar até que todas as empresas possam oferecer um canal de escuta que de fato proteja as pessoas e funcione para direcionar mudanças organizacionais necessárias. 



*dados baseados em informações públicas sobre alguns fornecedores de canal de denúncia.


Anterior
Anterior

Perguntas, respostas e provocações sobre LGBTQIA+fobia com Hóttmar Loch

Próximo
Próximo

Relatos em anônimo: 3 análises sobre porque essa opção é importante