A importância de construir um ambiente de trabalho focado em acolher todas as pessoas

Rafael Fingergut construir um ambiente de trabalho acolhedor

Oi, aqui é o Rafa falando

Aquele que gosta de falar, mas presta atenção em tudo. Sou um cara de alto contexto. Meu celular se divide entre fotos e roteiros de viagem e 80% das minhas buscas no Google são de foodtechs, restaurantes, chefs e tendências no mundo da alimentação. Atuo profissionalmente como facilitador e conector, e agora inicio uma nova empreitada como Headhunter. Minha jornada é feita de reinvenções, com um resultado claro e focado em impactar e se relacionar com pessoas e é sobre isso que falarei abaixo.

Sou bem prático. É uma atribuição que a mim sempre foi dada e que hoje recebo como uma característica positiva. Considerando essa minha característica, e depois de ter me identificado e comunicado para os outros que sou homossexual, ainda me questiono: o que tanto meus colegas de trabalho queriam saber sobre a minha orientação sexual?

“Isso me deixa confuso. Qual a graça de tirar alguém do armário? O que você faz com essa informação? Isso te traz algum benefício?”

No meu local de trabalho, eu tinha o objetivo de executar as atividades do meu cargo com excelência, e eu posso afirmar com orgulho que fiz isso em todas as organizações que já fiz parte. Independente disso, algumas situações constrangedoras eram rotineiras. Desde fazer perguntas invasivas sobre a minha vida amorosa, até dar risadas por eu não gostar de futebol (como se isso tivesse alguma relação com orientação sexual). Também já fui julgado por conta da forma com que eu me vestia ou porque minha voz desafinava.

Três guarda-chuvas coloridos construir um ambiente de trabalho acolhedor

Atos como estes desordenavam meu raciocínio, a ponto de fazer com que eu duvidasse da minha capacidade profissional. Eu sentia medo e ansiedade de não ser considerado para alguns projetos, me colocarem numa posição mais frágil e em ter que lidar com fóruns corporativos, nos quais predominantemente ocupavam “machos alfa” que não reconheciam a minha atuação na empresa.

Eu também sou negro. Isso também impactava a minha experiência no trabalho e me fazia refletir sobre o espaço que eu ocupava no mundo corporativo. Já fui analisado da cabeça aos pés e logo em seguida questionado sobre o que eu fazia naquele lugar. Já assumiram diversas vezes que eu era garçom, entregador ou vendedor - só por conta da cor da minha pele. O tom de surpresa ao descobrirem minha fluência em idiomas e os lugares que eu frequento é uma constante para mim.

“A nossa sociedade, no coletivo mesmo, é preconceituosa. Cabe a nós provocar mudança, reconstruir essa narrativa por meio da comunicação. ”

Eu quero ajudar a estimular a cultura de fala, essa tem sido minha maior garra: manifestar-me pela fala. Atribuo a comunicação um poder inigualável, para ferir, constranger e abusar, como também para ensinar, curar, libertar e transformar. Por isso fiquei tão feliz em ter sido convidado para vir aqui contar um pouco de como eu me sinto no dia-a-dia de trabalho, primeiro com um objetivo de constante cura, pois vejo isso como um processo de aprendizado longo e contínuo.

Pontuar o que te fez/faz mal, exprime um autoconhecimento, uma constatação de algo que você não gosta. Por para fora as suas dores e questionamentos ensina o outro o que te incomoda e ajuda no processo de resolução. Essa mesma constatação também proporciona ao receptor dessa queixa um momento de aprendizado, sobre privilégio, sobre construções sociais e acima de tudo sobre empatia. Venho me manifestado cada vez mais em situações que não me sinto confortável, para que pelo menos a minha “bolha” reconheçam o meu incômodo e passem a se mobilizar também.

“Atribuir de forma pejorativa alguma característica a alguém por que a pessoa é negra, gay ou pertence a qualquer outro grupo social minoritário é uma forma de manifestar preconceito. Fugir do assunto e se fechar para o diálogo reforça ainda mais essa posição. ”

Eu entendo bem o que me ofende quando uma situação acontece comigo, mas reconheço que as pessoas interpretam situações de formas diferentes, de acordo com o ponto de vista e o contexto de cada uma. Por isso, é muito difícil generalizar e falar o que é certo e o que é errado – invés disso, acho que devemos cada vez mais compartilhar situações que acontecem com a gente e abrir espaço para que outras pessoas façam o mesmo. Só assim vamos realmente conseguir construir ambientes de trabalho focado em acolher todas as pessoas.


Rafael Fingergut construir um ambiente de trabalho acolhedor

Rafael Fingergut Santos, internacionalista, que é ⅓ corporativo, ⅓ startupeiro e ⅓ ongueiro, além de entusiasta do setor alimentício. Hoje, atua como Headhunter.

"No fim, tudo se resume a pessoas e como você lida com elas.”


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